quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O vôo 717 da Aserca

 
O vôo 717 da Aserca faz a ligação entre Caracas e Barquisimeto e tudo corre dentro da normalidade. Normal é o que ocorre com frequência habitual suficiente para não se estranhar. O normal daqui pode não o ser noutro local.
O avião que fez a ligação até Caracas chegou 30 minutos antes do previsto e o que faz a ligação até ao destino final, Barquisimeto, é apenas às 20h30. São quase 5 horas de espera depois de uma viagem de mais de 9 horas de vôo. Resta tentar arranjar uma ligação um pouco mais cedo e, para isso, há que recorrer ao balcão de atendimento. A menina que atende não parece apresentar grandes dificuldades para fazer as alterações que se queiram, desde que haja uma qualquer recompensa. Um chocolate é o pedido mas, por trás desse pedido simbólico, parece que o pretendido é algo mais.
Depois de pesadas as malas e depois de verificado o peso excessivo, não houve também necessidade de pagar nenhum extra. “Aqui [no aeroporto] vende chocolates”, portanto, resta comprá-los. O vôo conseguido é o das 15h40 que está com um atraso de cerca de 3 horas para uma viagem que ronda os 300 Km.
Barquisimeto é a capital do estado de Lara e uma das maiores cidades da Venezuela. É também conhecida por ser a capital musical deste país devido aos vários talentos musicais que daqui saíram e ao gosto que os seus habitantes têm pela música. O grande director de orquestras Gustavo Dudamel é natural desta cidade também famosa pelos seus crepúsculos.
Chocolate comprado e chocolate dado resta procurar, no vôo 717, o lugar marcado. Para facilitar o acomodamento o acento é trocado com outro passageiro. Minutos mais tarde aparece uma passageira com o mesmo número do senhor que se mudou, ou seja, com o mesmo número do meu acento. Ao que parece, o mesmo lugar foi vendido duas vezes. Toda a situação é vivida com humor, principalmente da passageira que se acomoda perto do número que lhe tinha “calhado”, até que os passageiros desse lugar cheguem. Nova mudança, alguma dúvida se haveria, ou não, lugar para a senhora, mas tudo se resolveu. E houve lugar.


sexta-feira, 27 de julho de 2012

A senhora do Avião


Quando se viaja já se vai, muitas vezes, com uma ideia do que se vai encontrar. Ou porque vimos algo na televisão, no jornal, no cinema, ou porque nos contaram algumas coisas que fomos anotando na nossa mente, ou simplesmente porque o sabemos, de uma forma que nem nós próprios sabemos explicar. A viajem para Caracas teve início em Madrid, por isso a primeira etapa foi chegar até lá, desde Portugal. A julgar pela quantidade de passageiros que se preparavam para viajar, já se previa que o avião não iria ser pequeno e, a julgar pelas caras das pessoas, já se identificava a sua nacionalidade de uma forma inexplicável.

Caracas é a capital da República Bolivariana da Venezuela, está a cerca de 6600 Km de Portugal, em linha reta e conta com uma população que ronda os 5 milhões de habitantes ou seja, cerca de metade da população total de Portugal. O mar de Caribe, o mar semiaberto tropical do Oceano Atlântico está a uma distância da cidade que ronda os 15 Km.

Dentro das ideias que levava já comigo, levava a de que as pessoas eram mais comunicativas e menos inibidas, porém, menos dadas a regras e a respeitar os outros em determinadas situações. Não fui com a ideia de ser respeitado numa fila, para comprar algo, ou numa espera, no meio do trânsito. Sabia que se alguém pudesse passar à minha frente o faria, sem qualquer problema. Imaginava que todos quisessem sair rapidamente do avião, assim que ele aterrasse até porque isso já é normal, mesmo dentro da Europa organizada. O que surpreende é a incapacidade do poder de autoanálise de que normalmente nós, seres humanos, somos dotados. A senhora que viajava no banco da frente, quando embarcou no avião, não conseguiu deixar a mala perto de si. Teve de a deixar, antes, um ou dois lugares atrás. No momento da aterragem todos se levantam como habitualmente, antes de ser dado sinal para retirar o cinto. A senhora também quis sair, mas para o fazer teria de ‘remar contra a maré’ para agarrar a sua mala. A ‘corrente’ forte empurra para o sentido contrário. A senhora já se levantou há muito para sair rapidamente e não tem como agarrar a sua mala, mesmo depois da porta já ter sido aberta. Esperar parece estar fora de questão, por isso só resta lamentar a falta de paciência que as pessoas têm para sair, querendo todas fazê-lo ao mesmo tempo.